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23 de agosto de 2012

Desperta-se para deter Deus


Por E. M. Bounds

A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos. Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse, e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra. E orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto” (Tg 5.16-18).
Esta incessante pressão de negócios e compromissos está me destruindo – na alma, pelo menos, quando não é no corpo também. Mais solitude e oração de madrugada! Minha suspeita é de que tenho reservado, normalmente, pouco tempo para disciplinas espirituais, como tempo devocional, meditação, leitura das Escrituras e outras. Consequentemente, estou ficando desnutrido, frio e insensível. Devo reservar duas horas ou uma hora e meia por dia. Tenho ido dormir muito tarde e, por isso, mal consigo meia hora de manhã para meu tempo devocional. A experiência de todos os homens de bem confirma a verdade de que, sem um tempo devocional adequado, a alma fica desnutrida. Porém, tudo pode ser feito por meio da oração – oração poderosa, posso dizer – e por que não? Ela é poderosa somente por causa da ordenação graciosa do Deus de amor e verdade. Portanto, diante disso, ore, ore, ore! (William Wilberforce)

Embora nossas devoções não possam ser avaliadas somente pelo relógio, o tempo é um elemento essencial. A habilidade para esperar, e permanecer, e insistir é imprescindível para a comunhão com Deus. A pressa, imprópria e prejudicial em qualquer contexto, é extremamente nociva quando se trata da importantíssima questão da comunicação com Deus. Devocionais curtos são fatais para a verdadeira espiritualidade. Quietude, compreensão, convicções fortes nunca são os companheiros da pressa. Tempo escasso para comunhão resulta em esvaziamento de vigor espiritual, bloqueio de progresso, enfraquecimento dos fundamentos espirituais e definhamento da raiz e da flor da vida de intimidade. É causa certa e frequente de frieza na fé, indício infalível de espiritualidade rasa, facilita o engano e abre o caminho para apodrecer a semente divina e empobrecer o solo espiritual.
É verdade que as orações feitas em tempos antigos e registradas na Bíblia eram curtas, mas os homens de oração permaneciam na presença de Deus durante tempos prolongados de batalhas doces e santas. Obtiveram vitória usando poucas palavras, mas muitas vezes depois de longas esperas. As orações de Moisés que são registradas talvez sejam curtas, mas ele orou a Deus com jejum e fortes clamores por quarenta dias e quarenta noites.

As palavras de Elias na oração poderiam ser escritas em poucas frases, mas, sem dúvida, ele passou muitas horas em batalha intensa e altas transações com Deus antes de poder, com ousadia confiante, afirmar a Acabe: “Nem orvalho nem chuva haverá nestes anos segundo a minha palavra” (1 Rs 17.1). O resumo verbal das orações de Paulo é curto, contudo ele orava “noite e dia, com máximo empenho” (1 Ts 3.10). A oração do Pai Nosso é uma síntese divina para lábios infantis, mas o homem Jesus Cristo orou muitas noites inteiras antes que sua obra fosse completada, e foram esses períodos de comunhão prolongados que deram à sua obra um acabamento de perfeição, e ao seu caráter a plena glória de sua divindade.

O Preço de “Orar Pra Valer”
Empenho espiritual é muito desgastante, e as pessoas relutam muito em assumi-lo. Orar, orar pra valer custa um dispêndio considerável de atenção e tempo, algo que a carne não tem prazer em fazer. Poucas pessoas possuem fibra de caráter de tal natureza que queiram pagar um alto preço de empenho e sacrifício quando algo bem mais superficial seria igualmente aprovado pelo público em geral. Podemos acomodar-nos à nossa oração de mendigo até que nos pareça uma oração bem satisfatória, pois, pelo menos, nos dá uma aparência de estar dentro de uma normalidade decente e ajuda a acalmar a consciência — exatamente como os piores narcóticos!
Podemos negligenciar nosso tempo de oração e não perceber o perigo até que os fundamentos da nossa vida espiritual comecem a desmoronar. Ter um tempo devocional apressado enfraquece a fé, mina as convicções, produz uma espiritualidade questionável. Estar pouco tempo com Deus é ser pequeno para Deus. Encurtar a oração torna o caráter espiritual da pessoa inadequado, sem substância, mesquinho e desmazelado.
É necessário dar tempo suficiente para que haja um pleno fluir de Deus para o nosso espírito. Devocionais curtos cortam o condutor do pleno derramamento do Senhor. Necessita-se de bastante tempo nos lugares secretos para conseguir a plena revelação de Deus. Ter pouco tempo disponível e estar sempre apressado estragam a beleza do quadro que Deus quer pintar.
Henry Martyn, missionário inglês, lamentou que “a falta de leitura devocional em particular e o pouco tempo para orar, por conta do trabalho incessante de preparar sermões, causaram uma sensação de estranheza entre meu coração e Deus”. Avaliou que havia dedicado tempo demais às ministrações públicas e pouco tempo à comunhão particular com Deus. Sentiu fortemente que deveria separar tempo para o jejum e para oração intensa. Como resultado disso, ele anotou: “Fui auxiliado esta manhã a orar por duas horas”.
William Wilberforce, o companheiro dos reis, disse: “Devo reservar mais tempo para minhas devoções particulares. Tenho passado tempo demais em público e, para mim, o encurtamento do meu tempo devocional deixa o espírito desnutrido; vai ficando, a cada dia, mais pobre e debilitado. Tenho trabalhado até altas horas da noite”. A respeito de um fracasso no Parlamento, ele escreveu: “Quero registrar aqui minha tristeza e minha vergonha, que resultam, provavelmente, de ter diminuído meu tempo com Deus; provavelmente, foi em virtude disso que ele permitiu que eu tropeçasse”. Mais solitude e orar de madrugada foram as soluções adotadas.
Mais tempo e o hábito de levantar cedo para orar avivariam e revigorariam a vida espiritual decadente de muitas pessoas hoje. Mais tempo e oração de madrugada resultariam em vidas santas. Uma pessoa com vida santa não seria tão rara e tão difícil de encontrar se nosso tempo devocional não fosse tão curto e tão apressado. Um temperamento semelhante a Cristo em sua doce e desapaixonada fragrância não seria um legado tão estranho e impossível se soubéssemos permanecer por mais tempo e com mais intensidade no recinto secreto de oração. Vivemos com tanta pobreza espiritual porque oramos de forma tão medíocre. A abundância de tempo para desfrutarmos dos manjares divinos no recinto secreto fartaria de banha e de gordura a nossa alma (Sl 63.5).
Nossa capacidade para estar diante de Deus no recinto secreto mede a nossa capacidade para estar com ele lá fora. As visitas apressadas ao recinto secreto são enganosas e deficientes. Não somente somos iludidos por elas, mas também perdemos muitos tesouros, de várias maneiras. A permanência no recinto secreto instrui e faz triunfar. As maiores vitórias são resultado, muitas vezes, de grandes esperas – esperando até que as palavras e os planos próprios se esgotem. A espera silenciosa e paciente é que conquista a coroa. Jesus Cristo pergunta com tom de dor: “Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite?” (Lc 18.7).
Orar é a maior obra que podemos fazer – mas, para fazê-la bem, é preciso haver quietude, tempo e determinação; de outro modo, é rebaixada para uma das tarefas mais insignificantes e corriqueiras. A verdadeira oração tem os maiores resultados positivos, enquanto a oração medíocre, os menores. Nunca é demais quando oramos pra valer; já as orações rotineiras e sem coração são cansativas e totalmente ineficazes.
Precisamos aprender de novo o valor da oração, entrar novamente na escola da oração. Não há nada que tome mais tempo para ser aprendido. E se desejamos aprender a maravilhosa arte de orar, não adianta dar um fragmento de tempo aqui e outro acolá, mas teremos de exigir e segurar com garra de ferro as melhores horas do dia para dedicá-las a Deus e à oração. Do contrário, não haverá nada que mereça o nome de oração.
Entregando-nos à Oração
Esta, no entanto, não é uma era de oração; poucos se dedicam a isso. A oração é menosprezada por pregador e sacerdote. Nesses dias de correria e pressão, as pessoas não querem tirar tempo para orar. Há pregadores que “fazem orações” como uma parte do seu programa, em ocasiões regulares ou oficiais, mas “ninguém há que invoque o teu nome, que se desperte, e te detenha” (Is 64.7). Quem ora como Jacó – até ser coroado como príncipe e intercessor perseverante? Quem ora como Elias – até que todas as forças bloqueadas da natureza sejam abertas e a terra castigada e faminta floresça como o jardim de Deus? Quem ora como Jesus que saiu para o monte e permaneceu toda a “noite orando a Deus” (Lc 6.12)?
Os apóstolos se consagraram à oração (At 6.4). Não há nada mais difícil do que levar as pessoas e, até mesmo, os pregadores a fazerem isso. Alguns até doam seu dinheiro – alguns em abundância –, mas não querem “entregar-se” à oração. Há muitos pregadores que são capazes de dar grandes discursos, com muita eloquência, sobre a necessidade de avivamento e da expansão do Reino de Deus –, mas pouquíssimos estão dispostos a fazer aquilo sem o qual toda pregação e todo planejamento serão menos do que inúteis: ORAR. Está fora de moda, uma arte quase perdida, e o maior benfeitor que a nossa geração poderia ter seria um homem [ou um ministério] que trouxesse os pregadores e a Igreja de volta à oração.
Isto afirmamos como o nosso mais sóbrio juízo: a grande necessidade da Igreja nesta era – e em todas as épocas – é de homens de tal convicção, de tal santidade sem mancha, de tal vigor espiritual e zelo apaixonado que suas orações, sua fé, sua vida e seu ministério sejam tão radicais e agressivos que produzam revoluções espirituais, que marquem época em vidas individuais e na Igreja.
Não estamos falando de homens que produzem agitações sensacionalistas por meio de estratégias originais, nem que atraem multidões por meio de entretenimento agradável; estamos nos referindo a homens que possam trazer despertamento e produzir revoluções pela pregação da Palavra de Deus e pelo poder do Espírito Santo, revoluções que transformem toda a corrente e a direção dos acontecimentos.
Capacidade natural e vantagens de estudo ou cultura não figuram como fatores nessa questão, mas capacidade de fé, capacidade de orar, o poder da consagração total, a habilidade de diminuir ou ignorar a si mesmo, uma absoluta perda do “eu” na glória de Deus e uma constante e insaciável busca e aspiração por toda a plenitude de Deus. Homens assim podem inflamar a Igreja para Deus, não de uma maneira barulhenta e ostentosa, mas com um intenso e silencioso calor que derrete e move todas as coisas para Deus.
Deus pode operar maravilhas – se puder encontrar os homens certos. Os homens podem operar maravilhas – se puderem conhecer a Deus e ser guiados por ele. O pleno revestimento do Espírito, que transtornou o mundo no tempo da igreja primitiva, é essencial também nestes últimos dias. Homens que sejam usados por Deus para alvoroçar poderosamente o estado das coisas para Deus, que tragam revoluções espirituais para mudar todo o aspecto das coisas são a maior necessidade da Igreja em todo o mundo.
Edward McKendree Bounds (1835-1913) foi ministro metodista e autor de vários livros sobre oração nos Estados Unidos.

Um comentário:

  1. Ao ler este artigo, percebi, que devo orar mais do que já oro, ler mais do que leio e dedicar mais do meu tempo ao senhor que entregou seu próprio filho pra me salvar! Tempo em oração, tempo dedicado ao Senhor, nunca é perdido. É obvio que as vezes temos que levantar nossos joelhos e agir! Mas o problema, é que muitas vezes, queremos agir muito e orar pouco, sendo que para a ação correta, sem heresias, é necessário Oração, estudo, e dedicação a Deus.


    Belíssima postagem, Deus te abençoe Jeferson!

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